sábado, 18 de setembro de 2010

Meus delírios

Eram 18h de uma sexta-feira. Cansada e sonhando em deitar naquele sofá de sua diminuta (e aconchegante) sala do apartamento, Maria Teresa, 22, saía do escritorio em que fazia estágio no centro da cidade e caminhava por entre ruas, avenidas e pessoas.

No mesmo horário, Léo, 23 anos, deixava o prédio da empresa atormentado e confuso. Não gostava daquele lugar. Não escolheu aquela profissão. As vezes era como se sentisse que suas escolhas baseavam-se em desejos alheios, não suportava mais aquela sala, aquele bebedouro, aqueles papéis, aquelas pessoas. Era apenas um mero fantoche, ou um mero troféu que seu pai, um publicitário renomado do Rio de Janeiro, gostava de expor.

Seria muita despretenciosidade afirmar que tudo aquilo não estava predestinado. O atraso de Sandra, colega de trabalho de Teresa, acabou por deixa-la esperando certos documentos mais tempo que o necessário, e por esse motivo teve de sair mais tarde do que o normal. E mais estressada também.

Ambos tinham predileção por leitura, e costumavam visitar a livraria da cidade todo último dia útil da semana, sempre que possivel. Por ironia - ou não- do destino, cinco minutos após Léo, admirado em ver o lançamento de seu autor favorito Bernard Cornwell da vitrine da livraria, ter entrado na loja e começado a folhear aquele livro, Maria chega e se depara com aquele homem desconhecido... e percebe como ele é interessante...sua olhada foi retribuida e Leonardo ficou imaginando se aquele anel que estava no dedo da menina era de fato um anel de compromisso. Ela ruborizou e abaixou a cabeça...

Entre as mais lindas e interessantes histórias de amor e de guerra, na sessão de livros importados, um encontro aconteceu e um sentimento também... sentimento este que não era paixao, muito menos afeição... era simplesmente algo que se sentia e aproveitava, não sabia suas origens, por mais nova e fresca que era a impressão..um encanto, um interesse súbito, uma curiosidade...e essa era a parte mais interessante.

Maria comprou seu livro, saiu da loja, e pela última vez fitou aquele homem, com toda sua elegancia e discrição, e, aquele livro, que continha uma história qualquer, foi lido naquele sofá qualquer,daquele apartamento qualquer... daquela sexta-feira qualquer ...e entre um capítulo e outro, Maria deixava-se tomar por aquela lembrança doce, leve e indescritível...

Leonardo, na verdade, alguns dias depois esqueceria do rosto de Maria.. lembraria somente daquela tarde de sexta na livraria da cidade e daquela sensação que aproveitara..desde a percepção de que estava sendo observado até o momento da partida da menina...

Alguns anos depois, estariam eles bem sucedidos, vivendo uma vida feliz.. Ele largaria a empresa e ela abriria seu próprio escritório no centro da cidade e nunca mais se veriam, e se algum dia se esbarrassem, dificilmente reconheceriam um ao outro... mas a lembrança daquele sentimento ficaria pra sempre moldada num cantinho inconsciente da memória.

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