domingo, 13 de fevereiro de 2011

Bloqueio mental.


Manhã de sábado, dia nublado, estávamos aqui, separados apenas por nossos lençóis. A noite passada encaminhou a esta manhã um sentimento de vazio, uma carência de não se sabe o quê e, se esse pacto de silêncio for quebrado, uma avalanche de palavras irão perfurar a fina camada da minha pele, já sensível de tantos ferimentos. Totalmente desnecessário.

Preferi levantar cuidadosamente, já que você ainda está dormindo e me perdi no calor da água do chuveiro, a primeira coisa que compramos juntos, pelo menos ainda está funcionando, ao contário de nós. Tentei não pensar no que que estava pra acontecer, você provavelmente vai levantar, balbuciar um "Bom dia", eu irei responder e pronto, será dada a largada.

Você ainda está dormindo, então tento me esconder aqui, aproveitar o máximo esse tempo que posso ficar sozinha, sem meus pensamentos serem confundidos com seus gritos e insinuações. Juro, não consigo mais me ouvir quando você está por perto. Nessas horas a melhor coisa que faço é escrever, extravasar com as palavras, coisa que mais me peguei fazendo nas últimas
semanas, mas a escrita refletirá de certa forma o que se passa aqui,dentro de mim, dentro da gente. Serei parcial demais, não daria certo desta vez. Então, prefiro nao escrever.

Eu tento separar as coisas, mas, até que algo realmente nos faça desvencilhar de fatos e lembranças estaremos aqui, com a mente limitada. Isso é terrivel. Limitar a mente é limitar-se por completo. Estar preso é esconder-se de si mesmo. Reconhecer isto é o primeiro passo, e as
vezes o primeiro passo já é metade do caminho. Que bom, pelo menos já saimos do lugar.

Minha sensibilidade aguçada já me fazia esperar por casos e acasos nesses moldes e, por incrivel que pareça, desta vez não fui surpreendida, como eu já sabia?
Conte-me alguma novidade, diga-me alguma história,fale-me de assombração, de alma penada, de qualquer coisa, mas nao me fale sobre isso...não venha me metralhar mais uma vez, já não suporto mais. Essa história eu já sei de cor.

Você levanta, chama meu nome, digo um "oi" meio receoso e você percebe, e como se não bastasse, nem um bom dia foi dito e você já começou. Decidi, vou fazer um bloqueio mental. Você provavelmente está repassando cada coisa que aconteceu ontem a noite, achando novas fissuras em mim e fazendo questão de abri-las ainda mais, mas esqueça. Não estou te escutando. Você provavelmente está gritando cada segundo mais alto e os vizinhos já devem ter acordado mas eu não estou nem ai pra você.

Não estou nem ai pro quão irritado você está, não estou nem ai se você quiser sair por aquela porta e não voltar nunca mais. Sinta-se a vontade. Você sempre tomou as decisões por nós dois, pois bem, estou cansada de nadar contra a maré, deixo isso mais uma vez pra você, só que dessa vez eu quero a conivência, a submissão, ou sei lá o que você quiser chamar, porque pra mim, está cada vez mais claro. Isso nunca foi amor.

2 comentários:

Giuline disse...

gostei especialmente muito desse.

Hannah Ramos disse...

Obrigada!!!!